Naquele setembro de 2014, um episódio na Ucrânia chamou a atenção do mundo. Vitaly Zhuravsky, político famigerado, foi arremessado em uma lixeira por manifestantes indignados. O gesto carregado de simbolismo ilustrava o clamor popular contra a corrupção e a falta de ética entre os políticos ucranianos.

Ecos dessa indignação ressoam no Brasil, uma nação distante, mas com dilemas semelhantes. Neste ensaio, teceremos reflexões acerca das implicações dessa analogia, tendo como pano de fundo a realidade política brasileira e a necessidade de reduzir o poder do Estado.
Reportagem do The Washington Post
Um vídeo surgido na terça-feira em Kiev mostra uma multidão furiosa arrastando um membro do parlamento e literalmente jogando-o no lixo. Vitaly Zhuravsky é imobilizado pelos agressores, atingido com água e golpeado por um pneu solto antes de ser levado embora no contêiner de lixo e resgatado por alguns seguranças visivelmente desinteressados.
Zhuravsky é um ex-membro do partido político do ex-presidente Viktor Yanukovych, que foi deposto após meses de protestos em fevereiro. Alguns relatos sugerem que ele foi alvo devido ao seu papel na aprovação de um projeto de lei em janeiro que restringia a liberdade de expressão.
"Vivemos em um país onde o sangue corre por sua causa", gritou pelo menos um manifestante para o deputado caído, segundo a Reuters.
Este ataque ocorreu no mesmo dia em que o governo ucraniano do presidente Petro Poroshenko ratificou um acordo com a União Europeia e também propôs a autogovernança para duas regiões agitadas no leste da Ucrânia, bem como anistia para os rebeldes pró-Rússia que lutam ali.
A insurgência separatista aumentou o espectro de uma guerra total com a Rússia. Alguns em Kiev, particularmente entre a direita nacionalista da Ucrânia, ficaram muito descontentes com o acordo de cessar-fogo proposto.
"Uma capitulação foi anunciada hoje nesta guerra", disse Oleh Tiagnybok, líder do partido nacionalista Svoboda, conforme relatado pela BBC. O incidente de Zhuravsky lembrou uma cena filmada em abril, quando membros do Svoboda atacaram um chefe de uma emissora de TV em Kiev e o forçaram a renunciar diante das câmeras.
Não está claro quem eram os manifestantes que jogaram Zhuravsky no contêiner de lixo. Um grande grupo, incluindo membros do grupo de direita Pravy Sektor, havia cercado anteriormente o prédio do parlamento, exigindo a aprovação de um projeto de lei de "lustração", que avaliaria os funcionários do governo com base em seus papéis nas administrações anteriores do país, muitas das quais ainda carregam o estigma da corrupção.
Panorama histórico da corrupção brasileira
Desde os tempos coloniais, o Brasil enfrenta um embate incessante contra a corrupção. A cultura do "jeitinho", o nepotismo, o clientelismo e a apropriação indevida de recursos públicos são práticas enraizadas na administração pública.
Embora algumas medidas institucionais, como a criação da Lei da Ficha Limpa e a atuação de órgãos fiscalizadores, tenham sido tomadas, o flagelo da corrupção permanece como um dos principais desafios a serem superados pelo país.
Crise moral e política
O panorama político brasileiro é acometido não somente pela corrupção, mas também pela falta de moralidade. Um grande contingente de políticos e burocratas utiliza-se do poder para favorecer interesses particulares e de facções, prejudicando o bem-estar coletivo.
Ademais, a crescente polarização política contribui para um clima de instabilidade e desconfiança. A impunidade, por sua vez, perpetua práticas corruptas e imorais, alimentando a insatisfação popular.
Analogias entre Ucrânia e Brasil
Semelhante ao episódio ucraniano, a indignação popular no Brasil contra a corrupção e a falta de moralidade política tem se intensificado. Manifestações emblemáticas, como as ocorridas em 2013 e 2016, expressam a insatisfação da população com a classe política.
O ato simbólico de lançar políticos à lixeira, tal qual ocorrido com Zhuravsky, poderia ser interpretado como uma forma de repúdio aos políticos corruptos e antiéticos no Brasil.
No entanto, devido à abrangência da corrupção e imoralidade no Brasil, essa ação simbólica torna-se praticamente inalcançável. A quantidade de políticos e burocratas envolvidos em práticas indevidas é assombrosa, e tal gesto, se replicado no Brasil, resultaria na deposição de quase todos os políticos e burocratas em lixeiras.
O que podemos concluir?
A analogia entre o episódio vivido por Vitaly Zhuravsky na Ucrânia e a realidade política brasileira convida-nos a refletir sobre o papel da sociedade na luta contra a corrupção e a falta de moralidade. Ao invés de recorrer a atos simbólicos como o de lançar políticos à lixeira, é imperativo diminuir o poder do Estado, implementando reformas administrativas e reduzindo a máquina pública. Nesse sentido, é crucial defender políticas que desburocratizem e promovam a eficiência e a transparência no setor público, garantindo maior liberdade e autonomia aos cidadãos.
A diminuição do Estado, frequentemente referido como Leviatã, pode restringir a dependência da população em relação ao governo e, consequentemente, limitar as oportunidades para a corrupção e o abuso de poder. Outra medida importante é estimular o empreendedorismo e a iniciativa privada, criando um ambiente propício ao desenvolvimento econômico e social, onde os cidadãos possam prosperar sem a necessidade de favores ou intervenções estatais.
Além disso, a sociedade civil deve participar ativamente no monitoramento das ações governamentais e na fiscalização dos recursos públicos, contribuindo para a responsabilização dos gestores e a consolidação de uma cultura de ética e integridade.
Em síntese, a luta contra a corrupção e a falta de moralidade política no Brasil deve passar pela redução do Estado e pela promoção de reformas que garantam maior liberdade e autonomia aos cidadãos.
A analogia entre a Ucrânia e o Brasil nos mostra que é necessário transcender ações simbólicas e trabalhar por transformações profundas e duradouras na estrutura política e administrativa do país. Apenas assim, será possível construir uma sociedade mais justa e íntegra, onde a lixeira deixe de ser um destino aos políticos corruptos e se torne apenas uma lembrança distante em nossa história.